Identificado mecanismo de regulação do transporte celular de sais com potenciais implicações no tratamento da hipertensão e do cancro – INSA

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01-08-2019

Investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e do Instituto de Biosistemas e Ciências Integrativas (BioISI) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa identificaram uma forma desconhecida de as células humanas regularem a sua absorção ou secreção de sais, nomeadamente do sódio e do potássio. Esta descoberta poderá ter implicações clínicas futuras no tratamento de doenças como a hipertensão arterial e o cancro.

Os rins regulam a quantidade de sais e água que o organismo deve reter, o que se repercute na tensão arterial. Um excesso de consumo de sal pode prejudicar esta regulação e contribuir para a hipertensão arterial, uma doença que afeta já um terço da população adulta em Portugal e que aumenta o risco de enfarte do miocárdio ou de acidente vascular cerebral. Noutros tecidos, mecanismos regulatórios semelhantes são responsáveis pela retenção de minerais, pela viscosidade de muco protetor, pela atividade dos neurónios e, também importante, pela manutenção do volume e da forma das células.

A equipa de investigação liderada por Peter Jordan, investigador do Departamento de Genética Humana do Instituto Ricardo Jorge, identificou agora uma nova forma das células regularem o seu transporte de sais, alterando a quantidade de canais presentes na membrana que separa as células do meio envolvente. “O curioso é que esta nova forma não influencia a quantidade total de canais produzidos pela célula, mas antes envolve uma modificação reversível nos canais já existentes”, explica.

“A modificação consiste num grupo de fosfato inserido numa região específica do canal e determina se o canal é ou não retido na membrana celular, e logo se desempenha ou não a sua função de transporte de sais”, esclarece ainda Peter Jordan, para quem o conhecimento resultante deste estudo pode ter várias implicações clínicas futuras. “Por exemplo, um dos canais regulados por este mecanismo, designado por NKCC2, é o alvo dos fármacos diuréticos utilizados no tratamento da hipertensão arterial”, refere.

Segundo Peter Jordan, “o novo mecanismo poderá constituir uma via alternativa de intervenção terapêutica” em doentes com hipertensão arterial, mas não só. “O novo mecanismo poderá ainda servir para travar o crescimento de células cancerígenas, que aumentam a quantidade produzida de canais de transporte de sais para compensar a sua multiplicação acelerada”, conclui o investigador do Instituto Ricardo Jorge.

Os resultados deste trabalho foram publicados na revista internacional “Archives in Biochemistry and Biophysics“. O conteúdo de “Tyrosine phosphorylation modulates cell surface expression of chloride cotransporters NKCC2 and KCC3” pode também ser consultado, em acesso aberto, no repositório científico do Instituto Ricardo Jorge.