Combate ao VIH | Sida: Governo defende mudança de paradigma das políticas de saúde

11/10/2018

O Governo defendeu, no dia 10 de outubro, na Assembleia da República, a necessidade de mudar o paradigma das políticas de saúde direcionadas para o combate da epidemia do VIH/Sida, destacando o papel dos municípios devido à proximidade com os cidadãos.

«Se queremos ter melhores resultados na área do VIH, temos de pensar de forma diferente. Temos de mudar o paradigma das políticas de saúde direcionadas para o combate da epidemia do VIH. Temos de sair dos muros dos hospitais e das paredes dos centros de saúde. Temos de unir a sociedade neste objetivo», afirmou o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, no âmbito da conferência «Cidades na via rápida para eliminar o VIH».

O governante considerou que «é tempo de ouvir os que estão mais próximos, aqueles que conhecem as comunidades locais e onde o SNS [Serviço Nacional de Saúde] não consegue chega»”, referindo-se às autarquias e as organizações não-governamentais.

No projeto internacional «Cidades na via rápida para eliminar o VIH», que conta já com a adesão de dez municípios portugueses, o Governo empenhou esforços para uma implementação mais fácil das estratégias locais, melhorando quatro áreas relacionadas com esta doença, designadamente «na qualidade dos dados, na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento», avançou Fernando Araújo.

Em Portugal, continuamos «a diagnosticar os doentes muito tardiamente», apontou o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, defendendo ser necessário «transformar o teste do VIH em algo fácil e acessível para qualquer pessoa, em qualquer lugar e a qualquer hora».

Neste sentido, os primeiros testes rápidos de rastreio do VIH/Sida e dos vírus da hepatite em farmácias estão, desde o dia 10 de outubro, disponíveis em Cascais, distrito de Lisboa, e serão alargados, progressivamente, a outras zonas do país, referiu o titular da pasta da Saúde, lembrando que, até ao final do ano, vai ser possível comprar estes testes nas farmácias e realizá-los em casa, o que representa «um marco histórico no combate a esta epidemia».

De acordo com o governante, a nível da Europa, Portugal é um «’exemplo notável» na diminuição de incidência de VIH, indicando que houve «uma redução de cerca de 54% do número de novos infetados entre 2008 e 2016».

«No entanto, apesar deste percurso consistente e muito positivo, Portugal continua a apresentar uma das mais elevadas taxas de incidência na infeção por VIH na União Europeia», sublinhou.

Na sua intervenção, Fernando Araújo aproveitou, ainda, para prestar homenagem à professora Odette Ferreira «pelo enorme legado que deixou enquanto pioneira na investigação e pelo inestimável papel que desempenhou na luta contra a Sida, sempre à frente do seu tempo».

Na abertura da sessão, o Ministro da Saúde disse que Portugal «tem sido capaz de compreender o fenómeno das doenças transmissíveis como um fenómeno global, que carece de uma abordagem integrada, não apenas dos serviços de saúde, mas sobretudo da comunidade».

Dirigindo-se aos autarcas, Adalberto Fernandes desejou «uma vontade forte» no trabalho de combate ao VIH/Sida, pois tal «resultará num benefício para o conjunto dos cidadãos e, sobretudo, para os indicares de saúde em Portugal que, felizmente, também não param de melhorar».

Para a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, a concentração das infeções por VIH em zonas urbanas e periurbanas justifica a «forte aposta» neste projeto internacional, através da corresponsabilidade dos municípios em disponibilizar o acesso continuado ao rastreio e ao diagnóstico precoce, a serviços de prevenção e de tratamento de qualidade, e no combate do estigma e da discriminação das pessoas infetadas.

Lançado em Paris em 2014, o projeto «Cidades na via rápida para eliminar o VIH/Sida» [Fast Track Cities] visa acelerar a resposta a esta doença e atingir, até 2020, as metas «90-90-90», que correspondem a «90% das pessoas que vivem com VIH, a saber que têm o vírus, 90% das pessoas diagnosticadas com VIH a receber tratamento e 90% das pessoas em tratamento com carga viral indetetável».